Nos últimos anos, a necessidade de transitar para uma economia mais limpa e de menor impacto ambiental se tornou uma urgência global. À medida que a crise climática se agrava, os países buscam alternativas sustentáveis para suas matrizes energéticas. Neste contexto, o Brasil possui um potencial inigualável para se tornar um líder mundial em energia limpa e renovável, dada a abundância dos seus recursos naturais e o avanço tecnológico das suas cadeias produtivas.
Somos um país privilegiado por uma diversidade de fontes de energia renovável. Possuímos um dos maiores potenciais hidroelétricos do mundo, que já representa cerca de 60% de sua matriz energética. Além das hidrelétricas, o Brasil se destaca na produção de energia eólica, solar e biomassa.
A eólica, por exemplo, vem crescendo de maneira exponencial. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), em 2022, o Brasil alcançou a marca de 22 gigawatts (GW) de capacidade instalada, posicionando-se entre os maiores produtores mundiais desse tipo de energia. Os estados do Nordeste, como Bahia e Rio Grande do Norte, lideram a produção, graças a suas condições climáticas favoráveis e investimentos contínuos em infraestrutura.
No campo da energia solar, também apresentamos crescimento notável. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABsolar), o país ultrapassou os 13 GW de capacidade instalada em 2023, mostrando um crescimento anual médio de 44% nos últimos cinco anos. Esse avanço é impulsionado tanto por grandes usinas solares quanto por pequenas instalações de geração distribuída em residências, comércios e indústrias.
A biomassa, proveniente principalmente de resíduos agrícolas e industriais, é outra fonte relevante. O setor bioenergético – alguns conhecem como sucroalcooleiro –, em particular, é um grande produtor de bioenergia. O bagaço da cana-de-açúcar é utilizado para gerar eletricidade e etanol, promovendo uma economia circular que minimiza o desperdício e reduz a emissão de gases de efeito estufa.
As cadeias produtivas de energia limpa no Brasil têm mostrado desempenho robusto, apesar dos desafios. Empresas nacionais e multinacionais têm investido pesadamente em pesquisa e desenvolvimento, resultando em avanços tecnológicos que aumentam a eficiência e reduzem os custos de produção. A indústria eólica, por exemplo, tem visto a adoção de turbinas de maior capacidade e a otimização dos parques eólicos para maximizar a produção de energia.
No setor solar, a produção de painéis fotovoltaicos localmente tem ajudado a reduzir os custos e aumentar a competitividade. A presença de empresas como a Canadian Solar e a BYD, que instalaram fábricas no Brasil, é um indicativo da confiança no mercado brasileiro e da capacidade do país de se tornar um hub de produção para a América Latina.
Além disso, a cadeia produtiva da biomassa tem se beneficiado da inovação tecnológica e da integração com outros setores. As usinas de etanol, por exemplo, estão cada vez mais eficientes no uso de subprodutos, como a vinhaça, para a produção de biogás e biofertilizantes, fechando ciclos produtivos de maneira sustentável.
Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos para consolidar seu protagonismo global em energia limpa. A infraestrutura de transmissão de energia, por exemplo, precisa ser expandida e modernizada para garantir que a energia gerada em áreas remotas possa ser distribuída de maneira eficiente para os centros urbanos.
Outro desafio é a necessidade de um marco regulatório mais claro e favorável aos investimentos em energias renováveis. Políticas públicas consistentes e incentivos fiscais podem acelerar o crescimento do setor, atraindo mais investimentos e estimulando a inovação.
A formação de mão de obra qualificada é outro ponto fundamental. A transição para uma economia de energia limpa requer profissionais capacitados em todas as etapas da cadeia produtiva, desde a pesquisa e desenvolvimento até a instalação e manutenção de sistemas de geração de energia.
Por outro lado, as oportunidades são vastas. O mercado global de energias renováveis está em plena expansão, e o Brasil, com os seus vastos recursos naturais e expertise tecnológica, está em uma posição privilegiada para exportar não apenas energia, mas também tecnologia e know-how. Parcerias internacionais podem ser uma via de mão dupla, permitindo ao Brasil aprender com as melhores práticas globais e ao mesmo tempo exportar suas soluções inovadoras.
O futuro energético do Brasil é promissor, mas depende de ações concretas e coordenadas entre o governo, a iniciativa privada e a sociedade civil. A transição para uma matriz energética limpa e sustentável não é apenas uma questão ambiental, mas também econômica e social. A energia limpa pode impulsionar a criação de empregos, promover o desenvolvimento regional e aumentar a competitividade do país no cenário global.
Investimentos em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento e políticas públicas são fundamentais para que o país possa aproveitar ao máximo seu potencial energético. Programas de incentivo à geração distribuída, por exemplo, podem democratizar o acesso à energia limpa, beneficiando comunidades rurais e urbanas.
Além disso, temos a oportunidade de liderar a agenda global de sustentabilidade, mostrando que é possível crescer economicamente de maneira sustentável. A participação em fóruns internacionais e a assinatura de acordos multilaterais são passos importantes para consolidar essa liderança.
Resumidamente, o Brasil tem todas as condições para assumir um papel de protagonista global em energia limpa e renovável. Com recursos naturais abundantes, tecnologia avançada e uma cadeia produtiva robusta, o país pode não apenas atender às suas próprias necessidades energéticas de maneira sustentável, mas também ser um exemplo para o mundo. O desafio é grande, mas as oportunidades são maiores, e temos de estar preparados para aproveitá-las.
Faço questão de citar o Fórum de Políticas Públicas do Crea-SP realizado em Ribeirão Preto, no dia 21/06, como palco desse importante debate. Entre especialistas convidados, profissionais da área tecnológica e gestores públicos, foi abordado o desempenho das cadeias produtivas e das fontes energéticas brasileiras diante da necessidade global de atenção para economias mais limpas e de menor impacto ambiental.
A AEAN (Associação dos Engenheiros e Arquitetos da Alta Noroeste) e o Crea-SP estão alinhadas quando concluem que o Brasil deve se empoderar desse histórico e se posicionar entre as nações protagonistas da transição energética frente às emergências climáticas e às práticas de desenvolvimento sustentável.
Para que isso ocorra, chegou-se à conclusão no terceiro encontro do Fórum do Crea-SP de que faltam políticas públicas perenes para regulação, infraestrutura e segurança, além da definição de metas e incentivos fiscais; transformação cultural e educacional da base ao público técnico, com estímulo à pesquisa; e, por fim, a integração entre profissionais, poder público, iniciativa privada e sociedade civil, como propôs o evento. “Estamos trabalhando para discutir os problemas e auxiliar na solução deles. Os profissionais são fundamentais, pois têm essa expertise para diagnosticar e fazer bons projetos que resultarão na melhor qualidade de vida da população”, defendeu a presidente do Conselho, Eng. Lígia Mackey.